domingo, 22 de março de 2009

DEVOÇÃO. O DOCUMENTARIO QUE TENTA DESFAZER O MITO DO SINCRETISMO.....ASSISTAM...AXÉ

Sincretismo Religioso: Uma associação entre as religiões africanas e o catolicismo

“Devoção” questiona o mito do sincretismo religioso
Documentário lançado atualmente no Brasil aborda as questões religiosas
presentes na cultura brasileira
Por Lina Moscoso
O documentário “Devoção”, dirigido por Sérgio Sanz, de “Soldado de Deus” (2004), estreado em algumas capitais brasileiras, no dia 8 de agosto, chama a atenção para a polêmica do sincretismo religioso no Brasil, decorrente, sobretudo, da chegada dos escravos negros vindos da África. O filme abre uma discussão sobre a religiosidade brasileira, questionando o conceito de sincretismo no Brasil e apóia a sua linha-mestra na idéia de fé. Ele exibe, em 85 minutos, depoimentos de historiadores, pesquisadores, autoridades do candomblé e freis; e opiniões de devotos do candomblé e do catolicismo.
O diretor enriquece o documentário com imagens feitas em terreiros, contendo danças, rituais de adoração e sons de batuque para o orixá Ogum. A celebração de missas e festas, em meio a orações, e cânticos religiosos em homenagem a Santo Antônio também são mostradas no filme de Sanz. O longa-metragem, filmado entre abril e junho de 2007 no Convento de Santo Antônio e em terreiros no Rio de Janeiro, enfatiza a fé existente em cada uma das crenças, independente das diferenças ou similaridades.
“Devoção” expõe a associação que há entre os santos da Igreja Católica e os orixás. Santo Antônio, o santo mais popular do catolicismo, representado no candomblé por Ogum, o mais importante orixá africano, é a grande estrela do filme. Projetar o santo padroeiro a um orixá do candomblé foi estratégia necessária dos escravos africanos para adotar as práticas obrigatórias da religião dos seus dominadores e, ao mesmo tempo, manter a devoção às entidades do candomblé. Eles foram obrigados a se render à fé católica, sobretudo a Santo Antônio. A partir da astúcia dos escravos, nasceu a herança religiosa brasileira.

Trailer de Devoção
O Sincretismo Religioso
O sincretismo religioso, definido como a fusão entre duas ou mais crenças religiosas, apareceu entre os séculos XVI e XIX, com o tráfico de escravos, que trazia negros da África para o Brasil. Esta mistura de religiões surgiu no momento em que os africanos se viram obrigados a não praticar os rituais do candomblé, já que era proibida a prática de outra religião que não fosse o catolicismo. Neste período, o candomblé foi visto pela maioria dos brasileiros como bruxaria e reprimido pelas autoridades policiais. Os negros faziam associações entre os santos da Igreja Católica e os seus orixás para camuflar seus costumes religiosos. No ritual dissimulado, os escravos adoravam os santos católicos quando, na verdade, estavam venerando suas próprias entidades, mantendo acesas suas crenças e rituais.
A estratégia utilizada pelos negros acabava ludibriando os senhores, fazendo-os acreditar que eram os santos católicos a razão da devoção deles. Os cânticos eram efetuados na língua original dos africanos, já que não se entendia o que eles estavam dizendo. Porém, muitos escravos aceitaram a evangelização, abandonando suas crenças.
Segundo o sociólogo brasileiro, Reginaldo Prandi, viver no Brasil, mesmo sendo escravo, e principalmente depois, sendo negro livre, era indispensável, antes de mais nada, ser católico. Por isso, os negros no Brasil que cultuavam as religiões africanas dos orixás, voduns e inquices se diziam católicos e se comportavam como tais. Além dos rituais de seus ancestrais, freqüentavam também os ritos católicos. Continuaram sendo e se dizendo católicos, mesmo com o advento da República, quando o catolicismo perdeu a condição de religião oficial.
No Brasil, o sincretismo é um fenômeno bastante comum, mas é especialmente relevante na Bahia, onde há influência de crenças de religiões tradicionais africanas em rituais da Igreja Católica. Lá, o candomblé é cultuado por grande parte da população que é descendente dos escravos africanos. Salvador é caracterizada pela combinação de diferentes traços étnicos e culturais. Muitos praticam tanto a religião católica quanto o candomblé. O culto aos orixás, originário dos negros africanos, mantém-se vivo na Bahia até hoje. Eles são deuses dos iorubás considerados como espíritos da natureza e provenientes de elementos fundamentais: terra, água, fogo e ar.
O sincretismo também é comum na literatura, música, artes de representação e outras expressões culturais. Letristas como Dorival Caymmi e Vinícius de Moraes retrataram o tema em diversas canções, enquanto Dias Gomes levou-o para o teatro com a peça “O Pagador de Promessas” que, mais tarde, foi levada para o cinema, cosquistando uma Palma de Ouro no Festival de Cannes e uma indicação ao prêmio Oscar de melhor filme estrangeiro.
Algumas associações entre santos e orixás:
Ogum – Santo Antônio;
Oxóssi - São Sebastião;
Xangô - São Jerônimo;
Iemanjá - Nª Sª dos Navegantes;
Oxum - Nossa Senhora da Conceição;
Iansã - Santa Bárbara;
Omolu - São Lázaro.

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